O ensino de Línguas Adicionais nos currículos estudantis brasileiros (educação bilíngue) tem sido um assunto de grande preocupação para a maioria das escolas de educação básica. Entretanto, para nós do Colégio Elvira Brandão, a preocupação não está exatamente em como ensinar, mas sim em compreender como as pessoas aprendem conteúdos e desenvolvem letramento crítico por meio de línguas adicionais.
O estudo de idiomas não deve se restringir à formação gramatical e linguística, pois não atende às necessidades de comunicação que são impostas pelas demandas sociais, profissionais e acadêmicas da vida atual. Todas as práticas de ensino devem conduzir o estudante ao domínio da língua como um instrumento que o permite participar de forma ativa e crítica de situações cotidianas.
Para nós, a formação de bilíngues no percurso da educação básica é essencial, significa proporcionar experiências de aprendizagens significativas e articuladas com os demais conteúdos curriculares dos estudantes para que, além do repertório linguístico, desenvolvam competências de interação em múltiplos contextos, compreendendo e produzindo discursos sociais e acadêmicos em diversas áreas do conhecimento.
O que acreditamos ser educação bilíngue?
Ofélia García, professora da City University of New York e uma das principais referências mundiais em pesquisas sobre formação de bilíngues, defende que, em função da complexidade da nossa sociedade, a educação bilíngue é a única possível no século XXI.
Em Bilingual Education in the 21st Century (2009), uma de suas principais obras, García afirmou que o ensino bilíngue é uma maneira de proporcionar a educação significativa e equitativa, bem como uma forma de ampliar o entendimento e respeito em relação a outros grupos linguísticos e culturais.
Dessa forma, para que a língua seja um bom instrumento de comunicação, ela deve ser mais do que um aparato e as abordagens de ensino precisam ter um caráter multidimensional-discursivo, como defende Silvana Serrani, na obra Discurso e Cultura na Aula de Língua (2005). Os sentidos são construídos por meio de discursos significativos que estão além do mero conhecimento do idioma.
O Elvira Brandão se preocupa em proporcionar vivências que possibilitem o desenvolvimento cognitivo, socioemocional e acadêmico a partir dos idiomas que compõem o nosso currículo: o português como primeira língua da maioria dos nossos estudantes e o inglês e espanhol como adicionais. Por meio de um planejamento único e integrado, os três idiomas se entrelaçam em práticas pedagógicas autorais, inspiradas em temáticas atuais e em recursos didáticos publicados por editoras internacionalmente reconhecidas.
Um dos nossos grandes diferenciais é o investimento no corpo docente, que se reúne semanalmente em encontros de formação para estudar os mais diversos assuntos relacionados à educação e como esses temas fazem sentido no cenário da educação bilíngue. São importantes momentos de aprendizagem, planejamento e avaliação contínua das nossas escolhas pedagógicas, visando sempre alcançar os melhores e mais significativos resultados com os estudantes.
O que é um sujeito bilíngue e como isso se articula dentro do Elvira?
François Grosjean (1989) afirma que o sujeito bilíngue não é a soma de dois monolíngues. Em outras palavras, não há como saber igualmente as mesmas coisas em duas ou mais línguas que domina, pois não existe equivalência entre elas, mas o mais interessante é que o repertório bi ou multilíngue está sempre totalmente ativo. Portanto, o falante não tem compartimentos cerebrais diferentes para cada língua e todo o seu repertório linguístico está organizado de forma integrada, tornando-o capaz de fazer escolhas em fração de segundos, permitindo a comunicação por meio das suas melhores escolhas linguísticas.
A naturalidade com que o bilíngue utiliza seu repertório linguístico nos leva a estudar mais um conceito estudado pela professora Ofélia García: a translinguagem, que se refere à capacidade de transitar entre os dois idiomas.
Pensar em translinguagem nos leva a uma reflexão importante sobre o lugar da primeira língua e o da língua adicional na formação de bilíngues. Há uma linha tênue entre o uso da translinguagem, que se refere ao discurso natural e espontâneo do sujeito bilíngue, e o uso inadequado e excessivo do português nas aulas de línguas adicionais. Compreender a diferença e promover intervenções pedagógicas efetivas e consistentes é resultado da boa formação do professor.
O que defendemos em Línguas Adicionais?
As Línguas Adicionais não têm sentido se não estiverem integradas aos demais componentes curriculares. Defendemos que cada escola é única e, por esse motivo, estabelecemos parcerias com editoras que nos fornecem bons recursos didáticos. Acreditamos na autoria de um projeto pedagógico único, consistente, integrado e veiculado por meio das três línguas de instrução que fazem parte do currículo da nossa escola, o que nos permite conduzir experiências de aprendizagem mais significativas e fortes para os estudantes, e isso vai ao encontro do que defendemos em nossa escola: “Elvira Brandão, tão forte que é para sempre!”
O sucesso do nosso projeto de educação bilíngue.
Além da excelente qualidade dos nossos recursos didáticos, vários outros elementos são essenciais para o sucesso do nosso Projeto. A costura temática do nosso currículo é personalizada. Os nossos educadores da equipe de Línguas Adicionais estão em constante contato com outros das demais áreas do conhecimento para alinhar as diversas abordagens conduzidas em português, tornando-as próximas àquelas que serão tratadas em inglês e espanhol, mas não repetitivas ou traduzidas, pois há diversificação e renovação do que está em pauta.
Outro aspecto fundamental desse Projeto é o tempo que dedicamos à língua em cada segmento. Diariamente, desde o G1, a Educação Infantil tem momentos em inglês; o Ensino Fundamental conta com três tempos semanais e com o Elvira Plus, que amplia ainda mais o contato contínuo com o inglês; os 6º, 7º e 8º anos trabalham com turmas divididas, ou seja, menos estudantes por grupo, o que nos permite desenvolver mais incisivamente a oralidade, bem como as demais esferas de compreensão e produção da língua adicional; e no Ensino Médio, além das aulas regulares, oferecemos eletivas com temas variados, ansiando o aumento do contato com o idioma, dando aos estudantes a oportunidade de escolher uma área de conhecimento para desenvolver o inglês.
O espanhol está crescendo e ganhando espaço no nosso Projeto, partindo do Ensino Fundamental – Anos Finais. Para esse segmento, já oferecemos o idioma como curso optativo e alcançamos grande adesão neste ano. O gosto pelo aprendizado do espanhol vem se consolidando no Elvira e, nos próximos anos, português, inglês e espanhol serão línguas ainda mais comuns no nosso ambiente escolar!
Além de investirmos na carga horária, estamos nos alinhando à matriz internacional, o CEFR – Common European Framework of Reference for Languages, que é sugerida como referência para a elaboração de currículos e para avaliação de resultados pelas Diretrizes Curriculares para Educação Plurilíngue no Brasil, documento aprovado pelo CNE – Conselho Nacional de Educação em julho de 2020, que aguarda homologação pelo MEC. O referido documento tem como objetivo regulamentar e definir critérios para escolas bilíngues e escolas de carga horária ampliada em língua adicional.
São muitos os desafios que ainda encontramos na formação de bilíngues, mas um deles é assimilar as transformações da sociedade, articulando-a às nossas práticas em sala de aula, entendendo como os estudantes de hoje em dia aprendem.
A formação do professor é a chave para o sucesso de um projeto pedagógico que visa o ensino bilíngue. Todos os educadores da escola precisam estar envolvidos, pois independentemente do idioma por meio do qual lecionam, atuam diretamente na formação desses estudantes.
É necessário que os professores compreendam o que é, quais são as metodologias e práticas para a formação de um indivíduo bilíngue, tal como precisam entender como se integra um currículo, como ocorre o processo de aquisição de leitura e escrita em mais de uma língua (biletramento), como se avalia em contextos bilíngues, etc. Essa formação é um compromisso da escola e não apenas da equipe que leciona em uma língua adicional.